terça-feira, 29 de abril de 2014

Guia estimula boa convivência em espaços públicos de Porto Alegre


Campanha da Empresa de Trens Urbanos dá dicas de como se comportar em ônibus, ruas, calçadas e até aeroporto


A cena é corriqueira: você entra no vagão do trem com dificuldade, já que tem gente parada à toa na porta, toma uma mochilada de alguém que está passando, e é obrigado a ouvir aquela música que você odeia porque o passageiro ao lado se recusa a usar fone de ouvido.

Para tentar evitar situações como essas, tão comuns como desagradáveis, a Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre iniciou neste mês a quarta fase da campanha Etiqueta Urbana Trensurb, com a distribuição de um guia de boas maneiras para conscientizar os passageiros sobre o uso dos espaços públicos e melhorar a convivência no interior dos vagões.

O guia, criado em 2011, é feito com base em sugestões encaminhadas pelos próprios passageiros à Central de Atendimento ao Usuário da Trensurb. O diferencial desse ano são dois itens que passaram a ser recorrentes nessas comunicações feitas pelos passageiros: as pessoas que insistem em manter a mochila nas costas e acabam esbarrando em todo mundo, e a mania de ficar parado em frente à porta, mesmo que o vagão esteja vazio.

No caso de idosos, uma das maiores dificuldades é conseguir um assento em vagões lotados. A aposentada Ivone Barti, 75 anos, disse já ter notado uma diferença de comportamento entre os passageiros desde a retomada da campanha, em 22 de abril:

— A gente tem vergonha de pedir o lugar, e os mais novos veem e não cedem. Uns fazem que estão cochilando, outros que estão lendo, e assim vai. Agora, melhorou bastante.

Carlos Augusto Belolli, diretor de operações da Trensurb, ressalta que as dicas do programa de etiqueta urbana servem não só aos trens, mas para qualquer espaço onde houver acúmulo de pessoas utilizando determinados serviços, como nos ônibus. A entrega dos folhetos é acompanhada de uma explicação individual sobre a campanha e a importância de seguir as dicas em espaços públicos. Cartazes também estão distribuídos em pontos estratégicos. Até o fim de maio, estão previstas ações de conscientização em 12 estações, incluindo intervenções culturais com a participação do grupo Teatro Ideia Ação (TIA), de Canoas.

— Quando a gente atua com uma intervenção de maior impacto, como um esquete teatral, isso atinge mais as pessoas. Pode ajudar na própria interiorização desses princípios de urbanidade — ressalta Belolli.



No trem


— Não obstrua as portas e acomode-se ao longo dos carros

— Mantenha-se à direita nas escadas e ao entrar e sair dos trens

— Evite se sentar no chão

— Use o pega-mão adequadamente

— Deixe livres as escadas para o fluxo de ir e vir

— Respeite os bancos preferenciais

— Ao viajar escutando música, use fones de ouvido

— Retire a mochila das costas

— Não jogue lixo pelas janelas do trem

— Ao ler, não invada o espaço alheio

— Não se encoste na barra. Segure-a somente com as mãos

— Não fique dentro do trem no desembarque final

No ônibus



— Ajude quem está de pé e com muitos pacotes, oferecendo-se para segurar cadernos, maletas e embrulhos. Mas não insista

— Antes de abrir a janela, pergunte ao passageiro do seu lado se ele se incomoda

— Evite comer ao usar transporte público. Se for necessário, seja discreto

— Se não houver lixeira no interior do ônibus, colete seu lixo até encontrar o lugar apropriado para despejá-lo

— Ajude passageiros que estiverem com dificuldade para entrar ou sair do veículo

— Ao passar pelo corredor, não incomode aos outros empurrando, esbarrando ou reclamando

— Mesmo que seja preciso fazer alguma queixa ao motorista ou ao cobrador, faça de maneira educada. A reclamação é importante para melhorar o serviço, mas deve ser feita com educação

— Saiba esperar para entrar no coletivo com paciência. Evite empurrões, não fure fila e ceda a vez quando necessário

— Lembre-se de que você está dividindo o espaço com outras pessoas. Seja discreto, sem falar muito alto

— Cumprimente o cobrador e agradeça ao motorista ao sair do ônibus

— Facilite o troco na hora de pagar

Motoristas


— Respeite as regras de trânsito, incluindo sinais vermelhos e faixas de pedestre.

— O ideal é praticar a direção defensiva, de forma a evitar acidentes

— Evite trancar cruzamentos. Na dúvida, não avance

— Utilize a buzina apenas quando necessário. Não fique buzinando, por exemplo, em um congestionamento

— As regras de boa conduta incluem ainda não aceitar provocação de outro motorista

— Em dias de chuva, evite passar em alta velocidade pela faixa mais à direita, para não molhar os pedestres

Pedestres

— Na escada rolante, posicione-se à direita, para que os apressados possam passar pela esquerda

— Ao caminhar com um grande número de pessoas, evite que seu grupo ocupe toda a largura da calçada, para permitir a passagem de outros pedestres

— Atravesse na faixa de segurança, respeitando o semáforo para pedestres, quando houver

— Cuide para não bater nos outros transeuntes com sua bolsa, mochila ou guarda-chuva

Em viagens intermunicipais ou interestaduais

— Procure não esticar demais as pernas a ponto de incomodar quem está na frente, ou cutucar o assento da frente repetidamente

— Não leve volumes de mão muito grandes e utilize somente o espaço destinado às bagagens localizado na linha da sua poltrona

— Preste atenção à porta do banheiro, para evitar ficar preso ou com a porta aberta em caso de solavancos

— Em excursões, seja pontual e cooperativo

— Ao término da viagem, não fique esperando em pé no corredor. Tenha paciência para sair do veículo

No aeroporto

— A lógica de não ficar em pé, esperando no corredor, vale aqui também

— Deixe passar antes quem tem conexão e pode estar atrasado

— Ao esperar pela bagagem, respeite a linha no entorno da esteira, para que todos possam ver as malas e mochilas que estão passando, e para que todos consigam alcançar seus pertences

Fontes: Etiqueta Urbana Trensurb; blog Vida em Sociedade; e Josué Lemos da Silveira, professor de etiqueta social

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Especialistas alertam para aumento do fenômeno e avisam: “quanto antes se detectar, mais fácil prevenir”



No Brasil, estima-se que haja uma média de 25 suicídios por dia. Uma tentativa aumenta em 50% a chance de uma segunda investida. E mais de 90% dos casos estão ligados a problemas de saúde mental. Como se fala muito pouco sobre o assunto -- salvo quando um caso como o do músico Champignon ganha as manchetes -- os indícios do suicídio, considerado um tabu social, são mal conhecidos.

"Entre 1980 e 2010, oficialmente 195.607 pessoas se suicidaram no Brasil, o equivalente a três bombas atômicas como a de Hiroshima", contabiliza o o sociólogo Gláucio Soraes, professor e pesquisador do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da UERJ, em artigo publicado na Revista Inteligência em edição de junho de 2012. “Ainda que condenado por muitas religiões, produto de desvios tenebrosos da nossa alma, o suicídio recebe menos atenção do que os eventos catastróficos”.

A única forma de evitá-lo é adotar estratégias de prevenção e, para isso, é preciso conhecer os sinais.


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Suicídio: prevenção é limitada pelo tabu


“Estão envolvidos em uma tentativa de suicídio os fatores predisponentes, como genética, psiquismo do indivíduo, círculo social, ambiente familiar e até religião. E os precipitantes, aqueles fatores que motivaram o ato”, diz José Manoel Bertolote, autor do livro “Suicídio e sua Prevenção” (Editora Unesp) e especialista em psiquiatria da Unesp em Botucatu.

Mas 90% dos casos de suicídio estão atrelados a algum problema de saúde mental, como depressão, transtornos de personalidade, alcoolismo, abuso de drogas, bipolaridade ou esquizofrenia, entre outros.

“Quem fala não faz” é um mito comum sobre o suicídio. A maioria dos suicidas dá sinais claros de que vai se matar. “São praticamente anúncios. Normalmente os mais jovens são mais diretos. Eles verbalizam claramente, ou avisam pelas redes sociais, por email. Já os mais idosos são mais sutis. Eles se despedem distribuindo posses”, diz Bertolote.

Há também os sinais indiretos, que precisam ser decodificados. Um tipo de sinal, neste caso, é começar a colocar a vida em risco, como abusar de álcool e drogas, dirigir de forma irresponsável, brincar com armas de fogos perigosas. São os chamados suicidas passivos.

Para Karen Scavacini, gestalt terapeuta e mestre em saúde pública de promoção de saúde mental e prevenção ao suicídio, outro mito é relacionado ao tabu que cerca o tema: perguntar se a pessoa pensa em se suicidar não a induzirá ao ato. Ao contrário, falar sobre o assunto pode salvar muitas vidas. “Se você ficou desconfiado diante dos sinais, pergunte a ela: 'você está pensando em se matar?' Faça então um encaminhamento desta pessoa. Não precisa ser só para o psicólogo ou para o psiquiatra. Pode ser para o padre, o diretor da escola, o agente comunitário, o bombeiro”, aconselha Karen.


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Detectar os sinais precocemente aumenta as chances de salvar uma vida


Um estudo realizado pela Unicamp detectou que, no Brasil, 17 de 100 pessoas pensam seriamente em se matar. Com o silêncio que cerca o tema, a abordagem do suicídio como problema de saúde pública ainda engatinha. “Não existe no País saúde pública que dê conta deste fenômeno. A Estratégia Nacional de Prevenção continua até hoje no papel. O médico da unidade básica deveria ser o primeiro a detectar indícios”, diz.

Na Europa, as taxas de suicídio estão diminuindo porque a prevenção funciona. Já nos Estados Unidos foi lançada a campanha “Amigo bravo é melhor que amigo morto”, para incentivar os jovens a não manterem segredo e contarem o que sabem sobre as intenções dos colegas. “No Brasil, simplesmente não se fala no assunto”, completa Karen.

                “                 A gente procura entender por que a pessoa quer desistir de viver. Para o copo não transbordar, precisa esvaziar o que ela está sentindo antes
Mudança brusca

A voluntária do CVV Adriana Rizzo, que dedica quarto horas por semana para ouvir e aconselhar pessoas que pensam em se matar, diz que mudanças bruscas de comportamento são as principais pistas que o suicida dá. “Eram pessoas muito tímidas e, do nada, ficam muito agitadas. Também acontece uma retirada da vida social, um isolamento, ou abuso de álcool e drogas“, alerta.

Além da mudança de personalidade, ligue o alerta quando notar grande alteração alimentar ou de sono, sentimento de desvalor e desesperança. Pessoas que tiveram perdas recentes, como mortes, divórcio, histórico familiar de suicídio ou que tiveram diagnóstico de doença grave, fazem parte do grupo de risco.

O quanto antes se detectar, mais fácil prevenir. “Bem como intervir em crises”, conta a voluntária Adriana. “O nosso trabalho é oferecer atenção e conversar com a pessoa sobre um assunto que ela quer dividir e não consegue, pois se sente julgada, criticada. Ao desabafar e compartilhar o que está lhe afligindo, ela se sente valorizada. A gente procura a entender por que ela quer desistir de viver. Para o copo não transbordar, ela precisa esvaziar o que está sentindo antes”.

Ambivalência

Nem todo suicida quer morrer, apenas quer mudar a situação. Todo suicida é ambivalente: uma hora ele quer, na outra não. De acordo com Bertolote, isso explica porque muitas vezes, quando o suicida fez uso de um método letal e está à beira da morte, bate o desespero e ele se arrepende.

Tanto para quem convive com um suicida em potencial ativo, que toma objetivamente a decisão, quanto para quem vive com um passivo, que adota comportamento abusivo em busca de um "acidente", o conselho mais importante é não ignorar qualquer sinal. Leve a sério as ameaças e tome providências para ajudar a pessoa em risco. “O tratamento dos transtornos mentais é a primeira intervenção. Isso porque a maioria dos suicidas têm um transtorno como depressão, alcoolismo ou esses dois males associados”, diz Bertolote.


fonte:http://delas.ig.com.br/comportamento/2013-09-10/os-sinais-do-suicidio.html